A tenista brasileira Bia Haddad Maia, uma das principais referências do tênis feminino no Brasil e destaque constante no circuito da Women’s Tennis Association (WTA), tem sido alvo de ataques e mensagens ofensivas em suas redes sociais após suas recentes eliminações no SP Open 2025 e no WTA 500 de Seul.
No SP Open, Bia foi derrotada pela mexicana Renata Zarazua por 2 sets a 0, em uma partida marcada pelo equilíbrio e por reviravoltas. A brasileira começou dominante, abrindo 3 a 0, mas viu a adversária reagir, empatar e levar o primeiro set no tiebreak. No segundo set, após games disputados, Zarazua conseguiu uma quebra crucial, fechando o confronto em 2 a 0 e avançando às semifinais.
Hoje, 18/09, no WTA 500 de Seul, Bia enfrentou a alemã Ella Seidel, número 105 do ranking, e foi superada em uma batalha de 3h28min por 2 sets a 1, com parciais de 7/6(4), 6(3)/7 e 5/7. Vivendo uma temporada difícil, Bia Haddad deixou a quadra chorando e bastante abalada. Na estreia em Seul, a brasileira já havia passado por um episódio preocupante: sofreu um mal-estar em quadra, com tremedeira e falta de ar, precisando de atendimento médico para conseguir prosseguir na partida contra a sul-coreana Dayeon Back, que acabou vencendo por 2 sets a 0. As imagens do momento, em que ela aparece sentada no banco tremendo e tentando se recuperar, repercutiram fortemente nas redes sociais.
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Ofensas e ataques nas redes sociais
Após as recentes derrotas, as redes sociais de Bia Haddad Maia foram inundadas por uma onda de mensagens agressivas e misóginas. Comentários chamando a atleta de “lixo” e “palhaça”, além de sugestões para que se aposente, foram registrados em grande volume. Muitos desses ataques vieram acompanhados de símbolos depreciativos e linguagem ofensiva, evidenciando um padrão de violência de gênero que ainda persiste no esporte de alto rendimento, especialmente no meio digital.
Segundo levantamento preliminar feito pelo portal CidadeMarketing, em uma das postagens mais recentes no Instagram de Bia Haddad em campanha para Stella Artois, a maioria das mensagens ofensivas partiu de perfis masculinos, inclusive em outros idiomas como o inglês. Um dos comentários citava “Odds 10.00” e agradecia pela vitória em apostas esportivas decorrentes da derrota da atleta. Logo abaixo, outro perfil perguntava “quanto você apostou?”, revelando que parte dos ataques pode estar relacionada a apostadores frustrados ou oportunistas que utilizam o espaço das redes para extravasar suas emoções de forma abusiva.
Além dos comentários recentes, alguns desses perfis falsos e haters virtuais chegaram a disparar ofensas à atleta por meio de mensagens em massa. No perfil de Bia Haddad Maia, a primeira publicação em destaque e com comentários bloqueados celebra o maior título de simples da sua carreira — conquistado no WTA Elite Trophy Zhuhai, na China, em 2023. Esse contraste entre um momento histórico de celebração e os discursos de ódio evidencia como o ambiente digital pode mudar de tom de forma abrupta, expondo atletas a ataques mesmo em meio a conquistas relevantes para o esporte brasileiro e mundial.
No site oficial da Women’s Tennis Association (WTA), Bia Haddad figura atualmente na 25ª posição do ranking mundial de simples e já acumulou mais de 1,6 milhão de dólares em premiações na carreira. Seu histórico inclui títulos expressivos em simples — como WTA 500 de Seul (2024), Zhuhai (2023), Nottingham e Birmingham (2022) — e também em duplas, com conquistas recentes em Nottingham Open 2025 (com Laura Siegemund) e Adelaide International 2024 (com Taylor Townsend). Mesmo com um currículo repleto de vitórias, a atleta não ficou imune ao ódio virtual, que ignora seus feitos esportivos e foca apenas em momentos pontuais de derrota.
Especialistas alertam que esse tipo de comportamento é cada vez mais comum no esporte profissional e pode causar sérios danos ao bem-estar psicológico dos atletas. O assédio online, além de afetar a autoestima e a confiança, pode gerar ansiedade, depressão e até afastamentos temporários do esporte. Organizações esportivas e entidades de proteção ao atleta têm defendido medidas mais firmes das plataformas digitais para combater discursos de ódio e proteger esportistas de ataques virtuais sistemáticos.
Recentemente, a Women’s Tennis Association (WTA), em parceria com a International Tennis Federation (ITF), divulgou um relatório inédito com dados sobre abusos virtuais contra atletas nas redes sociais. O estudo, elaborado por uma consultoria externa contratada pelas entidades, analisou interações ocorridas ao longo de todo o ano de 2024. No total, foram examinados 1,6 milhão de posts e comentários em diversas plataformas, além de denúncias encaminhadas diretamente por atletas às organizações esportivas.
Os números revelados são alarmantes. Segundo o levantamento, 458 atletas — entre mulheres e homens — foram vítimas de ameaças e abusos online em 2024. Entre os conteúdos hostis identificados, 40% partiram de apostadores esportivos. Já entre as denúncias formais feitas por atletas, envolvendo mensagens recebidas por canais diretos como redes sociais, e-mails e aplicativos, 77% estavam relacionadas à atuação de apostadores. Os dados acendem um alerta sobre o impacto do crescimento do mercado de apostas no ambiente esportivo e no bem-estar mental dos competidores.
A publicação do relatório ocorre em um contexto marcado por diversos episódios de ataques virtuais que ganharam pouca repercussão midiática, mas circularam amplamente nas redes sociais nos últimos dois anos. Esses casos expõem um efeito colateral nocivo e menos visível da popularização das casas de apostas: a violência cotidiana direcionada a atletas, muitas vezes após resultados negativos em competições.
Em julho de 2025, o renomado tenista Gaël Monfils usou suas redes para denunciar comentários agressivos recebidos após uma derrota para Alex Michelsen, na primeira rodada do ATP 250 de Estugarda. Com tom irônico, Monfils escreveu: “A sério que apostaram em mim na grama? Jogava contra um jovem de 20 anos que está no top 35 do mundo. Estão completamente enganados. Não façam isso mais…”.
Gael Monfils talks about sports bettors #SportsBettingX #tennisbetting #tennispredictions #tennispicks #gaelmonfils pic.twitter.com/M9Kl7Sx2NU
— Tennis Club Picks (@tennisclubpicks) June 22, 2025
No futebol, o cenário não é diferente. No Dia Internacional de Combate ao Discurso de Ódio, a FIFA reiterou seu compromisso no combate ao abuso virtual e divulgou os dados mais recentes do Social Media Protection Service (SMPS), ferramenta que monitora e responde a comentários ofensivos direcionados a atletas, técnicos, árbitros e outros profissionais do esporte. Lançado durante a Copa do Mundo de 2022, o sistema será expandido para proteger as 32 equipes que disputarão a Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2025, marcada para ocorrer no novo formato no próximo ano. A medida reforça o movimento por mais segurança e responsabilidade no ambiente digital esportivo.
Apesar da eliminação recente e da onda de ataques virtuais, Bia Haddad segue como uma das principais referências do tênis feminino brasileiro. A atleta já figurou entre as 10 melhores do mundo no ranking da WTA, sendo a brasileira mais bem colocada desde Maria Esther Bueno. Entre seus feitos recentes estão o vice-campeonato no WTA 1000 de Roma, as semifinais no WTA 1000 de Madri e o título de duplas no WTA 1000 de Miami em 2023. Reconhecida por seu jogo agressivo e potente, Bia tem sido uma inspiração para jovens atletas brasileiras e segue como peça central na retomada do protagonismo do Brasil no circuito feminino mundial.
Tenistas renomados como Flávio Saretta e Fernando Meligeni utilizaram suas redes sociais para sair em defesa de Bia Haddad Maia e promover um diálogo sobre os discursos de ódio e a pressão enfrentada no esporte.
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