Será que a franquia da Cacau Show não presta? Entenda a polêmica
Fundada em 1988 por Alê Costa, a Cacau Show se consolidou como uma das marcas mais respeitadas do varejo brasileiro e é hoje considerada a maior rede de chocolates finos do mundo, com mais de 4.600 lojas espalhadas por todo o Brasil. Com uma trajetória marcada por inovação, expansão acelerada e forte apelo emocional com os consumidores, a empresa é sinônimo de presença em datas comemorativas, como a Páscoa, o Natal e o Dia dos Namorados.
Um império de chocolate
Com diversos modelos de investimento disponíveis a partir de R$ 64,9 mil, a Cacau Show oferece diferentes formatos de franquia para atender a variados perfis de investidores:
Loja Intensidade: Ideal para pontos comerciais a partir de 40 m², com faturamento estimado superior a R$ 1,4 milhão ao ano e investimento inicial de R$ 310 mil.
Loja Smart Intensidade: Voltada a regiões com potencial de até R$ 1,4 milhão/ano, com investimento a partir de R$ 240 mil.
Quiosque: Indicado para shoppings e áreas comerciais, com investimento de R$ 114 mil.
Loja Container: Modelo mais acessível da rede, a partir de R$ 64,9 mil e previsão de retorno em até 12 meses.
A Cacau Show ainda disponibiliza a modalidade de revenda de seus produtos, com o propósito de incentivar o empreendedorismo, oferecendo lucros a partir de 22%, conforme apresentado em sua landing page voltada a parceiros. No entanto, essa modalidade foi alvo de críticas durante a última Páscoa. Alguns revendedores, que adquiriram ovos de Páscoa antecipadamente, foram surpreendidos com promoções lançadas pela marca no final do período, o que gerou prejuízos tanto para quem não conseguiu vender os produtos quanto para aqueles que comercializaram os itens a preço cheio. Esses, por sua vez, enfrentaram reclamações de clientes que perceberam posteriormente que os mesmos produtos estavam sendo vendidos com desconto pela própria Cacau Show. A Cacau Show também conta com diversos canais de venda, incluindo venda direta, participação em festas e eventos, lojas temporárias e parcerias com grêmios corporativos.

Além das franquias, a Cacau Show também diversificou seu portfólio com dois resorts de luxo em Campos do Jordão e Águas de Lindóia/SP, e agora prepara seu novo projeto ambicioso: o Cacau Parque, que promete ser um parque temático com a maior montanha-russa da América Latina, integrando entretenimento, gastronomia e experiência sensorial com o universo do chocolate. Confira abaixo o filme institucional de um dos maiores projetos da história da Cacau Show — o CacauPark — com narração de Pedro Bial
Mas nem tudo são flores (ou bombons)
Apesar de sua grandiosidade e prestígio, a Cacau Show enfrenta atualmente um movimento de críticas públicas por parte de franqueados, ex-franqueados e ex-funcionários. Denúncias vêm sendo divulgadas por meio de perfis nas redes sociais como o @adoce_amargura, criado por Helena do Prado, ex-franqueada que compartilha experiências negativas com a marca, e o perfil @associacaouniaodefranqueados, que se apresenta como um coletivo em busca de justiça e mais transparência.
Entre as principais reclamações divulgadas estão:
Falta de acolhimento e suporte aos franqueados;
Endividamento excessivo em alguns modelos de loja;
Pressão por metas e falta de diálogo com a franqueadora;
Silêncio da marca e de seu fundador diante das manifestações públicas.
Essas denúncias geraram ampla repercussão na imprensa e nas redes sociais, criando uma cobrança crescente por posicionamento público da empresa e do próprio CEO Alê Costa, que até o momento não se manifestaram oficialmente.
No ReclameAqui, a avaliação da Cacau Show junto aos consumidores é classificada como ‘Ruim’, com nota 5,7 de 10. Entre as principais reclamações estão propaganda enganosa, mau atendimento, insatisfação com o sabor, produtos mofados e textura inadequada.

A Cacau Show passou por momentos desafiadores e, em 7 de novembro de 2023, enfrentou um dos episódios mais marcantes de sua história: um incêndio de grandes proporções atingiu sua fábrica em Linhares, no Espírito Santo. Cerca de um ano depois, a empresa reconstruiu a unidade com um investimento de R$ 150 milhões, demonstrando resiliência e compromisso com a continuidade de suas operações.
Afinal, a franquia da Cacau Show não presta?
É importante ponderar. A Cacau Show é uma marca com mais de três décadas de história, prêmios, reconhecimento de mercado e um legado de empreendedorismo que inspirou milhares de brasileiros. Seu modelo de negócio já transformou muitas histórias de vida — mas como em qualquer rede de franquias, existem acertos e erros, e ambos precisam ser reconhecidos.
Franquias são, por natureza, um modelo de negócio complexo: por mais que o franqueado invista seu capital, ele não é o dono da marca, mas sim um parceiro comercial que precisa seguir diretrizes. Quando há desalinhamentos, a relação pode se desgastar.
Por outro lado, a repetição de denúncias e a organização coletiva de franqueados e ex-funcionários apontam para uma insatisfação que merece ser apurada com seriedade. Não se trata apenas de ruídos pontuais, mas de uma narrativa construída a partir de vivências reais que não podem ser ignoradas.
O silêncio também comunica
Em tempos de redes sociais e hiperconectividade, o silêncio institucional pode custar caro. A ausência de um posicionamento oficial por parte da Cacau Show e de seu CEO contribui para a amplificação da crise e gera desconfiança entre consumidores e futuros investidores. Espera-se, no mínimo, um comunicado público e transparente, demonstrando respeito e abertura ao diálogo com os envolvidos.
A polêmica revela que mesmo marcas sólidas e inspiradoras precisam ouvir e acolher suas bases franqueadas, corrigindo rumos e adotando posturas mais empáticas. Afinal, o sucesso de uma franquia está diretamente ligado à satisfação e à prosperidade dos que a representam na ponta. Enquanto isso, a sociedade assiste, aguarda explicações e cobra responsabilidade — pois quem construiu uma marca doce como a Cacau Show não pode permitir que o gosto amargo prevaleça.