Por Denise Vieira, head de planejamento da HZ Comunicação
Fomentar o protagonismo negro no audiovisual foi a essência da nona edição do Festival Negritudes Globo 2025, que encerrou sua terceira edição reafirmando o compromisso de ampliar debates sobre a produção de conteúdo sob a perspectiva de pessoas negras — tanto à frente quanto atrás das câmeras.
No audiovisual, ser protagonista é conduzir a história. No campo social, é deixar de ser objeto para tornar-se sujeito. O protagonismo negro das telas transborda para o imaginário coletivo: abre novas possibilidades de existência e desloca a população negra da posição imposta por uma mídia colonizada — que, por décadas, a manteve no papel de coadjuvante — para o centro das narrativas.
Nos últimos anos, esse protagonismo ganhou visibilidade inédita na TV aberta brasileira. Em 2024, Taís Araújo resumiu essa virada ao questionar o que Ruth de Souza, Léa Garcia e Chica Xavier diriam ao ver, em sequência, Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz brilhando como protagonistas — algo que, por décadas, parecia inalcançável. Atualmente, um novo trio confirma essa conquista: Taís Araújo, Clara Moneke e Jeniffer Nascimento, em papéis centrais nas novelas da emissora.
Esse movimento se soma ao impacto da atuação de Belize Pombal em Vale Tudo, vivendo Consuelo — mulher negra que ascende de secretária a diretora trainee. Sua trajetória foi um oásis para milhares de mulheres negras, que puderam se reconhecer em um lugar possível no horário nobre. Imaginar é o primeiro passo para criar — e criar é transformar a realidade.
Outro marco foi Vai na Fé, exibida em 2023 e apontada como uma das novelas mais rentáveis da Globo nos últimos anos. Com 70% do elenco formado por atores negros, a trama, que pautou religiosidade e negritudes, conectou-se a milhões de brasileiros e provou que diversidade gera audiência, repercussão e retorno.
Com a população negra representando 56% dos brasileiros (IBGE, 2022) — e, na audiência da TV aberta, esse perfil ainda mais elevado —, a equação é clara: protagonismo negro no horário nobre não é apenas representatividade, mas conexão estratégica com a maioria real da audiência.
Em um país continental e diverso, com diferenças regionais muito amplas quando falamos de negritudes, ver todos os perfis representados no audiovisual – nos mais variados papéis sociais – é fundamental para romper a percepção ainda enraizada de que a raça define lugar e potencial.
É nesse contexto que o Festival Negritudes Globo mostra sua relevância como megafone de uma nova narrativa. Mais do que celebração, reforça o entendimento de que diversidade não é concessão — é estratégia de futuro.
Todo esse empoderamento, como destacou Joice Berth, escritora e autora do livro “O que é Empoderamento?”, durante o festival, só se concretiza quando articula quatro pilares: consciência crítica, acesso a direitos, coletividade e autonomia. A soma desses elementos é o que permite transformação social efetiva, especialmente para mulheres negras e outros grupos historicamente marginalizados. E, quando se fala em autonomia, trata-se também das dimensões emocional, intelectual, social e financeira.
O Festival Negritudes Globo não apenas celebra a pluralidade, mas também produz conhecimento, amplia repertórios e reinventa formas de contar e escutar histórias. É desses encontros que emergem tendências capazes de impulsionar mudanças — tanto no modo como nos vemos como indivíduos, quanto na forma como enxergamos o coletivo, celebrando um futuro que honra a ancestralidade.
Namastê, Axé, Amém, Negritudes.🙋🏾♀️
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