O Banco do Estado de Sergipe (Banese), tradicional instituição financeira pública sergipana, passou a ser alvo de críticas após expandir suas operações para o setor de loterias e apostas online, por meio da Lotese, incluindo cassinos virtuais e jogos online considerados polêmicos, como os populares “jogo do tigrinho” (Fortune Tiger), “jogo do aviãozinho” (Aviator) e outros similares, que mudam apenas a estética dos personagens, geralmente representados por animais. A iniciativa tem gerado críticas de especialistas e usuários nas redes sociais, principalmente pelo fato de se tratar de um banco estatal vinculado diretamente ao governo de Sergipe.
Em 2024, o Banese registrou um lucro líquido recorde de R$ 146,7 milhões, o maior da história da instituição. O desempenho financeiro sólido, no entanto, agora divide espaço com a controvérsia gerada por sua entrada no segmento de jogos de azar.
Plataforma oferece apostas esportivas e jogos de cassino
A plataforma de apostas, promovida por meio da Lotese (Loteria do Estado de Sergipe), apresenta uma estrutura semelhante à de grandes casas de apostas já consolidadas no Brasil. Entre as opções disponíveis, destacam-se modalidades esportivas como futebol, basquete, tênis, vôlei, MMA, futebol americano, futsal, beisebol e sinuca, além de diversos jogos em tempo real.
No entanto, o que mais chama atenção é a seção dedicada aos cassinos online, incluindo o Cassino ao Vivo e os chamados “Slots do Momento”, que oferecem giros grátis e envolvem apostas baseadas em sorte. Durante o período promocional, são destacados jogos como “Tigre Sortudo”, “Touro Sortudo” e “Ratinho Sortudo”. Além disso, a plataforma inclui os polêmicos jogos online, como o controverso “jogo do tigrinho” (Fortune Tiger), o “jogo do aviãozinho” (Aviator) e o “jogo do coelhinho” (Fortune Rabbit) — modalidades que têm sido alvo de denúncias na imprensa e investigações em uma CPI no Senado Federal, por serem classificadas como jogos de azar.

Jogo do Tigrinho, Aviãozinho e similares: Críticas públicas crescem
O jogo do tigrinho (Fortune Tiger), amplamente associado a perdas financeiras significativas, especialmente entre jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade, vem sendo duramente criticado pelo seu alto potencial viciante e pela facilidade de acesso, inclusive por menores de idade.
A disponibilização desse tipo de jogo por meio de uma instituição pública tem gerado indignação e protestos por parte da sociedade civil. Muitos consideram a medida um desserviço público e uma ameaça à responsabilidade social que se espera de um banco controlado pelo Estado.
Além do jogo do tigrinho, outros títulos similares, como o jogo do aviãozinho (Aviator) e o jogo do coelhinho (Fortune Rabbit), também fazem parte das críticas, por seguirem a mesma lógica de aposta rápida com forte apelo visual, psicológico e de retorno financeiro rápido.

Suporte 24h e Jogo Responsável
Apesar das polêmicas, a plataforma promovida pela Lotese destaca a oferta de suporte 24 horas, inclusive por meio do WhatsApp, além de orientações sobre práticas de jogo responsável. A proposta, segundo os idealizadores, é minimizar os impactos negativos e incentivar o uso consciente das apostas.
No entanto, a presença de jogos de azar de execução rápida e alto apelo emocional — com promessa de retorno financeiro imediato, no estilo “ganhou, sacou” — continua a levantar questionamentos sobre a real eficácia dessas ações de conscientização, especialmente diante de usuários em situação de vulnerabilidade.
Esses jogos operam por meio de mecanismos de aleatoriedade, como roletas, cartas, dados ou, no caso dos digitais, geradores de números aleatórios.
Ao longo do site, há um aviso de responsabilidade que informa:
“O jogo é proibido para menores de 18 anos, oferece risco de grandes perdas financeiras e, em excesso, pode causar prejuízos à saúde. Acesse nossa página de Jogo Responsável para mais detalhes e ferramentas disponíveis. Jogue com responsabilidade.” Além disso, todos os banners relacionados a apostas esportivas, jogos online e cassinos trazem informações claras reforçando que o serviço é destinado apenas a maiores de 18 anos e incentivam o uso consciente com a mensagem “Jogue com responsabilidade”.
Repercussão e responsabilidade social
A entrada do Banese nesse mercado reacende o debate sobre os limites entre iniciativa comercial e o compromisso ético de instituições públicas. Críticos alegam que o Estado deveria se manter distante da promoção de jogos online e priorizar políticas que contribuam para o bem-estar social, em vez de fomentar práticas associadas a endividamento, vício e desestruturação familiar.
Lotese segue o mesmo padrão de serviço aprovado pelo Ministério da Fazenda
É importante destacar que a Lotese — serviço de apostas vinculado ao Banese — apresenta uma estrutura similar às plataformas de apostas esportivas, também conhecidas como bets, já disponíveis no mercado e aprovadas pelo Ministério da Fazenda. Essas plataformas oferecem uma ampla gama de jogos online, incluindo cassinos virtuais, com destaque para títulos polêmicos como o “jogo do tigrinho” (Fortune Tiger), “aviãozinho” (Aviator), “coelhinho” (Fortune Rabbit), entre outros com jogabilidade semelhante, baseada em roletas, cartas, números e elementos aleatórios.
Além disso, essas casas de apostas investem fortemente em marketing e publicidade, patrocinando eventos esportivos, adquirindo naming rights, contratando influenciadores digitais, apresentadores de TV e utilizando diversos canais de mídia para ampliar seu alcance no Brasil.
De acordo com pesquisa do Kantar Ibope Media, o setor de jogos e apostas liderou os investimentos em publicidade no Brasil em 2024, consolidando-se como um dos segmentos com maior investimento em estratégias de comunicação e visibilidade de marca.
O CidadeMarketing consultou o suporte da plataforma via WhatsApp
O CidadeMarketing entrou em contato com o suporte 24h da Lotese para esclarecer a disponibilidade do jogo Fortune Tiger (popularmente conhecido como “jogo do tigrinho”) na plataforma, além da semelhança com o Fortune Rabbit (“jogo do coelhinho”).
O atendimento foi realizado de forma ágil. A equipe informou que a Lotese é autorizada a operar com base em uma lei estadual, sendo considerada uma plataforma segura e de confiança. Em relação ao Fortune Tiger, foi esclarecido que o jogo foi temporariamente retirado do ar para ajustes, mas que retornará em breve à plataforma.
Sobre o Fortune Rabbit, a atendente confirmou que o jogo já está disponível e que ele possui características semelhantes ao Fortune Tiger. Segundo a resposta recebida:
“A Lotese (Loteria Social de Sergipe) é um órgão vinculado ao Governo do Estado de Sergipe e tem autorização legal para operar loterias dentro do estado. Pode ficar tranquilo, você pode apostar com segurança. No momento, o jogo do tigrinho não está disponível no site, mas ele será reinserido o mais rápido possível. O provedor já está ciente.”
Ao ser questionada especificamente sobre as semelhanças entre o Fortune Tiger e o Fortune Rabbit, a atendente respondeu: “Isso mesmo, só muda alguns detalhes, mas é semelhante.”
A Lotese, primeira loteria do país operada por um banco público estadual — o Banese — foi oficialmente lançada nesta segunda-feira (26/05), em um evento realizado em Aracaju, que contou com a presença de autoridades públicas e representantes da sociedade sergipana. Em publicação no Instagram, a marca informou que “oferecerá mais de 600 modalidades de jogos, incluindo jogos instantâneos (raspadinha), prognósticos numéricos e apostas de quota fixa (online). Os jogos virtuais já estão disponíveis por meio do site www.lotese.com.br, com acesso restrito a usuários georreferenciados no estado de Sergipe.”
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Além da versão online, a Lotese também lançará sua operação física: os jogos presenciais terão início em 31 de maio, durante os festejos juninos do Arraiá do Povo, na Orla da Atalaia, em Aracaju.
Em nota publicada no site oficial do Banese, o banco informa que a Loteria de Sergipe (Lotese) chega como uma alternativa regulada, pública e transparente para a oferta de jogos e apostas, com base legal e finalidade social. A iniciativa assume a responsabilidade de ofertar um produto já presente no mercado, mas sob gestão pública, com controle rigoroso e respeito à população.
Segundo o comunicado, as atividades da Lotese serão monitoradas e fiscalizadas pela Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Sergipe (Agrese), conforme estabelece o Decreto Estadual nº 1.108/2025. Um Centro de Controle Operacional será instalado nas dependências da própria Agrese, reforçando a promessa de transparência e segurança nas operações.
Ainda de acordo com a nota, todas as modalidades de jogos oferecidas pela Lotese estão em conformidade com as Leis Federais nº 13.756/2018 e nº 14.790/2023, que regulamentam o setor de apostas no Brasil.
O processo de criação da Loteria de Sergipe teve início em 2021, com a promulgação da Lei Estadual nº 8.901, que autorizou o Poder Executivo a prestar o serviço, um ano após a decisão do Supremo Tribunal Federal que liberou a exploração de jogos por parte dos estados brasileiros. A regulamentação foi formalizada em 2022, por meio dos Decretos Estaduais nº 159 e nº 165.
Em 2024, a Assembleia Legislativa de Sergipe aprovou, por unanimidade, a Lei Estadual nº 9.440, autorizando o Banese a planejar, organizar, explorar e operar os serviços lotéricos no estado, em nome do Poder Executivo. Já em novembro do mesmo ano, o Banco Central do Brasil autorizou a criação de uma subsidiária do banco estadual para atuar no setor de loterias. O processo competitivo para a definição da parceria estratégica foi concluído em 2025.